sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Desejo e reparação: Entre História e histórias


A primeira impressão passada pelo filme Desejo e reparação (Atonement, 2007), dirigido por Joe Wright, é a de mais uma das monótonas adaptações de romances best-sellers internacionais – na maior das vezes, dramalhões acerca das dificuldades de relacionamento em períodos históricos nada propícios a “grandes amores”, ou reflexões sobre temas tabus nos tempos de El Rei. Felizmente, nada disto. Desejo e reparação mostrou-se como uma obra sensível e de forte senso crítico, revelando o quanto o poder das palavras pode influenciar no decurso da História.
Adaptado da obra literária do escritor britânico Ian McEwan, a produção cinematográfica trata, como já explicitado no título em português, de temas como a paixão e o ressentimento. A tônica do “tempo perdido” é metáfora recorrente na obra, que apela para um enredo não-linear, costurado por flashbacks, os quais pretendem apontar para as diferentes perspectivas assumidas sobre um mesmo acontecimento.
Tendo como pano de fundo a Inglaterra de 1935 e a eclosão da 2ª Grande Guerra, a trama se desenrola em torno da vida de um casal apaixonado (Cecilia Tallis e Robbie Turner), que tem sua história de amor interrompida pela própria irmã de Cecília, Briony Tallis, de apenas 13 anos, que também guarda em segredo uma paixão por Robbie. Briony, aspirante a escritora de grande imaginação, constrói o mundo a sua volta, preenchendo as lacunas dos pequenos acontecimentos que vivencia – cada passo seu é acompanhado pelas batidas da máquina de escrever que, enfim, acabam por tecer a própria história contada.
Desejo e reparação é, sobretudo, um filme que explora a dinâmica estabelecida pelas frestas da História e da história narradas, assunto tratado de forma delicada. A culpa, sentimento que atormenta a personagem Briony, desencadeia uma série de reflexões acerca de questões como a perda da inocência e a grande importância que podem ter pequenos atos, os quais por muitas vezes passam despercebidos. Assim, a Literatura torna-se elemento fundamental na vida de Briony, que busca, até as últimas consequências, “reparar” os danos causados a sua irmã, trançando os fios narrativos entre ficção e realidade.

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